Em novos vazamentos do ‘The Intercept’ procuradores falam de transgressões éticas de Moro

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Para procuradores, Moro infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria

Por RBA

O jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, divulgou há pouco em sua conta no Twitter uma prévia de mais uma reportagem da série #VazaJato a partir de vazamento de diálogos sobre a atuação do ex-juiz Sergio Moro na condução da operação Lava Jato. “Até mesmo os promotores de Lava Jato sabiam e reclamavam abertamente sobre as contínuas transgressões éticas de Moro e a conduta politizada e corrupta como juiz”, afirma Greewald ao apresentar o novo material.

No diálogo divulgado, a procuradora Monique Cheker afirma: “Moro é inquisitivo. Só manda para o MP quando quer corroborar suas ideias. Decide sem pedido do MP (variasssss vezes) e respeitosamente o MPF do PR sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela lava jato”.

Antes disso, o procurador Angelo Goulart Villela diz que não confia no ex-juiz. “Cara, eu não confio no Moro não. Em breve vamos nos receber cota de delegado mandando acrescentar fatos às denúncia. E se não cumprirmos, o próprio juiz resolve”, afirma.

reproduçãoEm 1º de novembro, uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro para se tornar ministro da Justiça. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato lamentavam que, ao aceitar o cargo (algo que ele havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a legitimidade e o legado da operação. Os óbvios questionamentos éticos envolvidos na ida do juiz ao ministério poderiam, afinal, dar maior credibilidade às alegações de que a Lava Jato teria motivações políticas. “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, disse  Monique.

Um dia antes do anúncio de Moro, em 31 de outubro, quando circulavam fortes boatos de que o então juiz participaria do governo Bolsonaro, outra procuradora, Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, escreveu no grupo Filhos do Januario 3: “Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo.”

Na sequência desta conversa, a procuradora Laura Tessler – uma das personagens centrais de outra reportagem da #VazaJato – , também da força-tarefa, concordou com a avaliação da colega e ainda usa uma das denominações mais populares para definir o presidente da República: “Tb acho péssimo. MJ (Ministério da Justiça) nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a LJ (Lava Jato). Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o moro queima a LJ”. Outro procurador da operação, Antônio Carlos Welter, enfatizou que a postura de Moro era “incompatível com a de Juiz”.

No dia seguinte, 1º de novembro, quando ficou claro que Moro seria anunciado como ministro da Justiça, outros procuradores do MPF não envolvidos com a Lava Jato aderiram ao coro. Conversando no grupo BD, do qual faziam parte procuradores de vários estados, eles dispararam duras críticas ao ex-juiz. Acompanhe:

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Procuradores reprovam conduta de Moro por aceitar cargo no governo Bolsonaro e desacreditar e Lava Jato

“Povo simplório”

A reportagem mostra ainda que na noite da votação pelo segundo turno das eleições, antes de ser anunciado o resultado, procuradores da Lava Jato e outros membros do MPF se mostraram irritados no grupo “BD” com a esposa de Moro. Mesmo depois de o ex-juiz já ter “cumprimentado o eleito”, Rosângela Wolff Moro comemorou explicitamente a vitória de Bolsonaro em suas redes sociais e causou indignação. “Erro crasso”, “perde a chance de ficar de boa” e “esse povo do interior é muito simplório”, foram expressões usadas para mostrar a sensação entre os integrantes do Ministério Público, Moro teria ido longe demais. Confira:

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Escadinha

O Intercept mostra ainda que os procuradores consideravam que Moro escancarava seus projetos políticos e sua parcialidade como o juiz que julgava os processos referentes à Lava Jato e que abria um “precedente perigoso”, ao negociar abertamente com Bolsonaro um superministério com poderes expandidos. O procurador Ângelo Augusto Costa chamou a atenção do grupo “BD”: “Não eh muita coisa? Acho que o próprio Bolsonaro vai ficar com medo. Rs. Isso sem falar de quem vem depois. Moro, ok, mas nada eh eterno. Esse super MJ pode virar uma máquina de perseguição política.”

Na conversa, os procuradores do grupo “BD” indicam preocupação com a futura nomeação de Moro e de como esta serviria de munição para o PT contra a Lava Jato. Peterson de Paula Pereira, procurador da República no Distrito Federal, disse que a decisão de Moro mostrava como ele atuava contra o ex-presidente Lula: “Fica claro que ele tinha Lula como troféu”. Para Monique Cheker, o movimento do ex-juiz passava uma imagem de que ele estava fazendo uma “escadinha” política com a Lava Jato:

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Leia a matéria do The Intercept Brasil na íntegra.