A Alma do Dinheiro

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Por Paulo Wagner

No mundo surgem pessoas especiais que dedicam suas vidas às causas urgentes da humanidade, como o combate à fome e doenças endêmicas, assistência às vítimas de guerra, preservação ambiental, estimulo à economia solidária e bancos populares, defesa dos povos indígenas e minorias, entre outras causas relevantes. Lutas que necessitam de ações concretas e um olhar mais humano, igualitário e fraterno para com nossos semelhantes.
Neste contexto de luta por causas importantes da humanidade surgiu Lynne Twist, ativista mundial, consultora e autora que dedicou sua vida à justiça social, servindo por vinte anos a iniciativa global “The Hunger Project”, organização que começou em 1977. Durante esse período, Lynne coordenou uma mobilização mundial de levantamento de recursos para combater a fome em diversas regiões do planeta como Bangladesh na Índia, África e nos principais lugares onde a fome se tornou um problema endêmico e devastador.
 Durante suas viagens pelo mundo Lynne conviveu com Madre Teresa de Calcutá, Mandela, Dalai Lama e vivenciou diversas culturas, conheceu de perto situações de abundância e falta de dinheiro, pobreza extrema e riqueza excessiva. Fato que possibilitou à ativista desenvolver uma profunda sabedoria sobre o relacionamento humano com o dinheiro, e a maneira que ele governa, domina e estressa a vida das pessoas.
As ideias da ativista a respeito do assunto foram compiladas no livro “The Soul of Money” (A Alma do Dinheiro), Best Seller que revelou ao mundo um entendimento novo sobre as relações das pessoas com o dinheiro. Uma visão inédita que ficou conhecido como psicologia da escassez e suficiência. Através dela a autora mostra ao leitor que nossas atitudes em relação ao dinheiro – ganhar, gastar e doar – podem oferecer insights surpreendentes sobre nossa vida, valores e a essência da prosperidade.
Lynne afirma que costumava chamar as pessoas de países da África e da Índia, em situação de vulnerabilidade, de pobres, mas que depois de conviver e trabalhar com elas descobriu que não há nada de pobre nestas pessoas. “De fato elas são pessoas fortes, criativas, inovadoras e mais resilientes do que pessoas de outros lugares do mundo. Na verdade, algumas dessas pessoas que chamamos de pobres demonstram mais coragem para sobreviver por um dia do que nós precisaremos por toda vida. Não há nada de pobre nelas e chamá-las de pobres as diminui e nos diminui”.
Com as pessoas chamadas de ricas, os milionários e bilionários, gente que possui recursos em excesso, bens que não conseguirão gastar nesta vida, a ativista diz ter aprendido muito sobre o dinheiro. Para Lynne usar o rótulo de rico para aqueles que vivem no fluxo e refluxo de circunstâncias abundantes também os diminui. “Se nos referirmos a eles como ricos e tratá-los assim, os deixaremos confusos sobre o que eles são realmente. Eles começarão a pensar que são sua casa de praia, o seu iate, as suas ações na bolsa, seu jato particular, fato que os diminui e nos diminui quando os categorizamos desta forma”, enfatiza a ativista.
Entre as inúmeras reflexões a respeito do dinheiro que surgem no livro, a autora destaca que ele não é uma coisa do mundo natural. Segundo ela, o dinheiro foi inventado para facilitar a nossa vida, possibilitando o processo de troca e o compartilhamento de recursos, talentos, habilidades e bens. O objetivo inicial seria de ajudar uns aos outros a adquirir aquilo que necessitamos. “Mas o dinheiro se afastou deste propósito e saiu deste trilho há muito tempo e hoje é usado para dominar, manipular, controlar e marginalizar…No mundo de hoje é dado ao dinheiro mais importância que a vida humana, à natureza e os relacionamentos com as pessoas que nos cercam Nós como uma cultura global, damos mais significado ao dinheiro que a nós mesmos e isso que atribuímos a ele não é verdadeiro”.
Segundo Lynne, as pessoas pensam a partir da condição de escassez. Essa percepção do mundo faz com que as pessoas fiquem presas ao que ela denomina de “a mentira da escassez” e passem a não enxergar o que ela chama de verdade radical surpreendente, ou seja, “Existe o suficiente, as pessoas têm o suficiente e elas são suficientes.”
Alguns mitos permeiam a “mentira da escassez”, um dele afirma que não há o suficiente, que não temos o suficiente. “Ao pensar assim nossa alma poderá achar que não é suficiente. Desta forma as pessoas se sentem vazias por dentro, gerando inúmeras doenças como a obesidade, depressão, abuso de álcool e drogas, etc.
Outro mito que acompanha a “mentira da escassez“ traz a ideia que mais é melhor. Uma casa com mais espaço, um carro maior, mais empresas, mais sapatos, mais blusas, mais tudo, uma busca indiscriminada por mais”. Desta forma vai se acumulando mais daquilo que não precisamos. O circulo vicioso da cultura do consumo nos diz que temos que adquirir mais para nos sentirmos felizes. Está mensagem está em todos os lugares, está internalizada em nós por mais que sejamos conscientes e tentemos negar.
O terceiro mito imprime um estado de conformação com conceitos e práticas estabelecidas, ele surge quando dizemos, as coisas são assim mesmo! A partir desta premissa equivocada justificamos que não há o suficiente para todos, por isso, temos que continuar acumulando, que mais é melhor e que assim desde o começo da humanidade. Sem observar que esses mitos nos governam e mantém um estado de desigualdade entre os seres humanos.
A grande descoberta que podemos empreender é a de que há o suficiente para todos. A suficiência é diferente da abundância. Esta última é você ter muito mais daquilo que precisa, “com medo que não há o suficiente”. Já a suficiência é exata, ou seja, nossas necessidades são atendidas de forma precisa pelo universo, “nem mais e nem menos”.
Neste contexto Lynne nos diz que o dinheiro é neutro, “somos nos que damos sentido ao seu uso”. Assim sendo, podemos utilizá-lo na realização de propósitos elevados, como fazer o bem para o mundo e para as pessoas. Quando usamos o dinheiro desta forma ele pode ganhar uma conotação espiritual positiva, conectada aos nossos mais elevados sentimentos e ideais de fraternidade e evolução.